segunda-feira, 28 de julho de 2008

"You’ve got to give a little"

Paula Rego- Flying children


Tudo foi um susto. Respirei uma vez. Uma vez apenas antes do beijo. Foi o suficiente para que me ardesse o corpo todo. Depois, foi o delírio. Dias e noites dos quais me lembro feito fossem minutos, segundos a desdobrarem-se em mais que tempo. Milhares de pequenos fragmentos de gestos, palavras, cenários. Uma incongruência de tempo e possibilidade.

O que chamamos vida entrecortada pelo poema, talvez isso. Algo entre o sonho, o desejo do sonho e a sensação de realização deles. Um relógio só aparentemente correto, um oceano de afeto, a disposição de dizer a verdade, a sensibilidade e o sexo. Foi o que bastou.
Suponho que o amor possa acontecer assim e não há realidade que o negue.

O corpo atravessado pela tua marca, a alma dançarina. A sensação da mais íntima de compreensão das coisas.
O sorriso fresco da felicidade. A felicidade tem um sorriso de um frescor ímpar e um olhar rejuvenescido.

O cd toca assim : "you've got to give a little, take a little and let your poor heart brake a little. That's the story of, that's the glory of love ". É uma linda canção. Os americanos acreditam nisso. Eu não. No amor há que haver dor, eles dizem. Não foi o que senti. Nenhum sofrimento naqueles dias. Nada negociado. A glória do amor nos habitava. Estávamos em pleno ar.

De mim o que sei é o vôo, o mergulho. Sem fronteiras. Até onde tiver que ir. Até o corte. Sem penitência. Sem medo.

Não sei mais de ti.


Silvia Chueire