quinta-feira, 30 de agosto de 2007




















Nenhuma lógica

Nenhuma lógica explica coisa alguma. A vida é uma conjunção de insensatez e temeridade. Uma conjunção involuntária. A sermos generosos poderiamos dizer: semi-voluntária.

Nenhuma lógica explica coisa alguma muito menos alguns raciocínios lineares. Os matemáticos, talvez? Talvez nem isso. Talvez o amor justifique a vida. Viver como ato pleno, quero dizer. Aquele momento raro e pontual em que fomos o melhor de nós mesmos e o fomos para o outro e por nós.

Mas tudo isso são pensamentos esparsos.

Não sejamos ridículos, não dramatizemos, não demos maior valor às coisas do que o que elas têm, poderias dizer-me.

Nada tem valor algum a não ser o que lhe atribuímos. De modo que podes ser cínico, ou descrente, ou sarcástico. O amor não deixará de existir por causa disto. O amor não deixará de existir porque o julgas de pouco valor. Nem o teu amor por mim deixará de existir. O que deixa de existir é a tua possibilidade de vivê-lo integralmente. Eu o vivi. Digo-o sem temores.

Ontem à noite sonhei que visitava uma casa muito branca e quase vazia, projetada contra o céu azul. Algumas árvores sussurravam ao vento ao longo da estrada que ia dar na casa. Outras se distribuíam em torno dela. Dentro, uma estante de muitos livros, uma lareira pequena, a mesa tosca com duas cadeiras e a um canto uma cadeira de balanço. Nela sentava-se um homem muito só, muito triste, mergulhado em remorsos. Pareceu-me estranhamente familiar, a casa, a cena. Sonhei um sonho que não me pertencia, pertencia-te

O que isso tem a ver com a minha digressão sobre o amor? O amor em si mesmo, eu responderia.




Silvia Chueire

Um comentário:

hfm disse...

Belíssimo e o último parágrafo tem muita força.