segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

sobre escolhas

não, meu amigo, não negocio um milímetro. não cedo, não dou um passo atrás neste assunto. se é que se pode chamar assunto.
a minha é uma dessas vidas que só faz sentido de um modo. e esse é um modo apaixonado. não há barganha possível. não me ofereça estabilidade, consistência, carinhos sem ardor, sexo eficaz.

não me importo de roer a eventual angústia de estar só. aumento o volume do som, canto mais alto, danço pela sala, recolho-me a examinar cuidadosamente as circunstâncias, ou choro. estar só não é um desastre. se uma ou outra vez dói capitular, a farsa de estar acompanhada tem peso demasiado. a pragmática opção da escolha de um companheiro, sem amor não vale a pena, é algo ainda mais frio do que eventualmente estar só pode ser. não, não faço por menos. há de ser amorosamente, apaixonadamente ou nada.

há casos em que se perdem os sonhos. não sou um deles . perder o sonho é a fratura do olhar. é render-me à lisura dos dias, como se nada houvesse além das horas contadas em minutos e o horizonte fosse ali, plano, sem enigmas.

a vida é cheia de perguntas e incertezas. uma janela aberta é uma ponte, um filme, o convite para o vôo, uma fuga, uma alegria intensa, saber-me viva, única, e tão obviamente parte do todo. o sonho é sempre maior que nós, é o que nos engrandece. a realização do sonho é a prova cabal de que é possível.

assim, não me peças o que pedes. quero o amor, a música e a dança contidas nele. toda a poesia. vertigem, voragem e liberdade em corpos que se perdem. o deleite de partilhar o que penso, o que sinto, o que pensa e sente o outro. fazer feliz. fazer feliz é uma dedicação que encerra um tipo de prazer indizível.
a paixão, o amor, não têm apenas uma história, são muitos os enredos. e tão diversos.
não quero que a vida, a minha vida, seja uma fotografia em sépia. quero significados em todos os gestos. todos os que possa fazer significar.

certamente cada um terá a sua escolha, ou será levado pelos acontecimentos. não discutirei de que lado se encontra a razão. há sempre uma voz a dizer que o amor é ridículo. sempre alguma voz a razoar com a idade, a maturidade, a compostura. como se o tempo nos tornasse menos humanos. ou a maturidade menos sensíveis.

calarei sobre as escolhas que fizeste ou as que foste levado a fazer.
porém, enquanto puder dirigir-me tomo a direção que achar melhor, faço a minha escolha. portanto aí estão minhas cartas, na mesa. e a minha aposta. pretendo não menos que a felicidade.


silvia chueire

4 comentários:

hfm disse...

Tão belo e sentido, Silvia!

Jacinta Dantas disse...

Eu por aqui, também tenho minhas escolhas e,em tudo, com tudo e por tudo, desejo amar e ser amada. Isso sinto.
Belo texto menina.
Uma abraço
Jacinta

M.C.R. disse...

com que então a escrever secretamente... ? E nós sem sabermos de nada...

Anna Paula disse...

Silvia,

É realmente um bálsamo passar por aqui. Seus textos me reconciliam comigo mesma.

Obrigada.