sábado, 23 de fevereiro de 2008

Levitação

É um movimento que levita, o das mãos a dizerem quase-preces, quase-vidas, quase-sensações. Traz consigo a chama do olhar, a essência de alguma coisa que não podemos definir, algo que arde, eleva-se, nasce do vôo, do mergulho, do fogo, ou do abismo. E quando o gesto se transforma no ato de, tomada a pena, escrever palavras , todo este movimento atinge o auge da transmutação.

As mãos a criarem uma ordem de palavras. Palavras elevando-se como seres recriados, novos no seu esplendor, pássaros estremecidos na sua capacidade de voar. E as mãos a levitarem na enorme distância entre elas e o poema, na curtíssima distância entre elas e o poema.

Aí nos entregamos a um canto que remove todos os obstáculos. E deitamos o corpo, a razão, a desrazão e os sentimentos sem medo, nas mãos das mãos, nas palavras encadeadas.


Silvia Chueire

2 comentários:

Lau Siqueira disse...

Foi tudo de bom, amiga. Mesmo com o cansaço me abatendo. Afinal, não sei quando volto ao RJ. Um beijo e mto obrigado por tudo.

Manoel disse...

"...Nas mãos das mãos, nas palavras encadeadas" - uma pequena obra-prima e, prosa poética. Um tocante louvor à criação. Belíssimo texto.