terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Deus é pai


Ia pela calçada da praia revendo a beleza e o mar que lhe acalmavam e sempre lhe traziam uma alegria interna.

O salto fino do sapato ficou preso na calçada de pedras portuguesas. O corpo inclinou-se para frente, preso o pé, e antes do tombo provável ela se apoiou no primeiro braço que ia passando. Surpreso, ainda assim ele a sustentou.
Passado o susto, o constrangimento ainda no ar, pedidos de desculpas. Os de praxe, sem muito exagero. Por uma fração de minuto teve a nítida impressão de que ele se divertia com o seu constrangimento. Como se eu andasse por aí a me agarrar ao braço do primeiro que passa , pensou. Meu Deus, ele é bonito! Pior, vai pensar que é isso.

- Ainda precisa ajuda? Tem certeza que não se machucou? Seu tom era cuidadoso.
Ela pensando, tomara tivesse algum machucadinho, ele me levaria no colo?

- Não, obrigada, respondeu com um sorriso leve, os olhos a olhá-lo de baixo para cima, pois se inclinara um pouco como a conferir o bem-estar do tornozelo.
E olhou-o certa de que o sorriso e o olhar azul eram suas melhores armas. É agora ou nunca! E pôs-se ereta. Ele era um tanto mais alto ainda. Os olhos castanhos claros também sorriam. Parado olhando-a.

-Está bem, então. Até outra vez.
O sorriso nos olhos dele, não sabia se ele brincava ou hesitava.
Nada mais a dizer, estava bem, não caíra e ele queria ir embora. Não podia abordá-lo, que tal tomar um café comigo? . Não tinha jeito para isto. Iria embora também, se possível antes dele. Sorriu um sorriso sem graça, ajeitou a bolsa no ombro, passou a mão na saia, como que a limpar algum cisco e deu o primeiro passo. Seu corpo abruptamente desequilibrou-se, os joelhos cederam. Só viu os braços dele se estendendo.

– Deus é pai! – estava quebrado o salto


Silvia Chueire

Nenhum comentário: